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James Carrington tem o título de Fellow da IGMA (honra máxima concedida a um miniaturista). Apesar de ser mestre na sua área, reconhecido internacionalmente, é uma pessoa jovial, simpatissíssima e extremamente acessível.
Ele gentilmente concedeu uma longa e maravilhosa entrevista ao DHB quando estive em Chicago, em abril de 2010.
Esta entrevista é uma aula memorável de vida, de alegria, e cheia de dicas para quem quer fazer dolls em miniatura ou arte em geral.
Continua totalmente atual e empolgante.
Esta é sua oportunidade de aprender um pouco com este grande mestre!
Fotos de seus trabalhos no final da próxima página.
Bem, antes de começar a lidar com dolls eu já tinha sido dançarino, o que dá às minhas dolls movimento. Já fui estilista, então posso vesti-las, já que sempre estive no meio da moda.
Em 1984 eu precisava de uma mudança. Eu tinha encontrado uma senhora que fazia bonecas maiores, Jill Bennett, começamos a conversar e ela me convidou para ficar sócio dela para fazer dolls para dollhouses, e eu não entendia nada do assunto!... Isso foi bem no começo… Eu então fui à feira de Birmingham pela primeira vez e descobri este universo todo! Daí a Jill e eu começamos nosso negócio, que era de dolls em porcelana. Naquele tempo todas elas eram bonitinhas e se pareciam com bonecas da época vitoriana. Eu queria fazer dolls mais realistas, mas os colecionadores não estavam preparados para este tipo de coisa... Voltei para o teatro por um tempo. Lidei com a moda de novo e fiz outros trabalhos da minha ‘vida anterior’, até que um dia eu quebrei meu tornozelo.
Eu vinha tentando achar um material com que trabalhar, algum outro que não fosse porcelana, porque eu não me sentia à vontade com ela... Lá estava eu de molho na cama, com o pé para cima, sem poder sair de lá. Um amigo veio me visitar e eu me lembrei que no meu porão bagunçado tinha um bloco de Fimo que eu tinha comprador sete anos antes, e um molde de silicone. Pedi para trazê-los para mim. E de repente eu descobri o que vinha procurando! É sempre assim: o ‘destino’ já tinha tudo planejado…
Comecei a esculpir, a experimentar, e descobri que eu conseguia fazer as dolls! Fiz uma coleção usando blocos novos de Fimo. Entrei em contato com algumas pessoas que eu conhecia da minha ‘vida passada’. Ao tentar ligar para uma senhora que, na época em que eu havia trabalhado com dolls tinha me convidado para ir mostrar meu trabalho, não consegui falar com ela. Tive então que ligar para outra pessoa, e esta sim me convidou para ir à sua loja. Eu receava que as pessoas ainda só quisessem saber das ‘bonecas bonitinhas’. Sou um homem maduro, então eu gosto de fazer figuras humanas mais realistas, mais ‘passionais’, para incorporar meu lado ‘teatral e dramático’ e a dança. Levei minhas dolls para ela, ela comprou um monte de dolls minhas e sua assistente ficou ‘brincando’ com elas, de um jeito muito interessante!
Acontece que a assistente dela era ninguém menos que Carol Hibert, esposa de Steve Hilbert, de Chapel Road que, acabei descobrindo, era um homem famoso que fazia pinturas de ‘casas de reputação duvidosa’ da classe operária, inspiradas nos livros de Dickens, e ele estava exatamente procurando alguém que fizesse figuras humanas mais realistas, mais dramáticas. Fiz 5 dolls e as enviei para ele só para obter sua opinião. Ele ficou tão animado! Eles estavam indo para a feira de Birmingham e me pediram para deixar que eles as levassem. Na 2ª feira seguinte, de manhã, recebi um telefonema deles me contando que aconteceu um verdadeiro tumulto na feira, que senhoras disputaram minhas dolls a tapas. Eles disseram: ‘sua nova carreira acabou de começar!’
E tem sido sempre assim comigo... De repente eu me dei conta que os ‘deuses’ estavam comigo e que eles estavam me guiando e simplesmente relaxei!
DHB: James, conte-nos sobre seu início... Como começou a esculpir dolls?
entrevista publicada em 01/03/2012
Eu estudei na Faculdade de Arte “Nottingham Art College”. Antigamente a gente tinha aula de anatomia, modelos vivos, você tinha que desenhar nus, danças... Tenho uma grande consciência da estrutura e do equilíbrio na figura humana. Isso, para mim, é o mais importante. Coisas como as mãos são de importância vital porque elas dão pontuação à estória. Elas é que fazem tudo ter sentido. E mesmo figuras humanas no mais completo silêncio têm uma história para contar!
DHB: Você tem alguma formação em desenho ou estudou anatomia para ajudar a esculpir?
Gostaria de pensar que é a próxima doll que será a minha favorita mas… eu tinha um livro sobre dança, com fotografias de danças, e havia uma de um dançarino japonês bem velhinho, com uma malha rosa horrorosa, um kimono feio, cabelo todo arrepiado com uns leques espetados, sua maquiagem pesada estava com rachaduras e mesmo assim ele mantinha a pose mais mágica que eu tinha visto! Seu nome é Katsuo Uno, um dançarino japonês. No livro eles o descreviam como tendo uns oitenta anos, que seu trabalho era muito abstrato e que ele ensinava grupos de pessoas especializadas por todo o mundo. E foi esta alegria que tive ao ver este senhor maravilhoso que queria compartilhar seu conhecimento que me levou a fazer – na minha opinião... – uma das dolls mais triunfantes. Eu levei para uma feira e as pessoas ficavam perplexas, meio que abaladas por ele, e eu me dei conta que jamais poderia vendê-lo. Ele se tornou meu ‘tesouro’. Ele me inspira! Ele é belo, quase trágico…
DHB: Entre todas as dolls que você fez até agora, qual é a sua favorita?
Tente estudar o máximo de fotografias que puder, e entender porque uma em especial te emociona. Isto é tão pessoal! Você pode tentar copiar o trabalho de outro escultor. Não há mal nenhum nisso durante o processo de aprendizado... Mas relaxe e permita que o escultor dentro de você venha à tona. Não acontecerá da noite para o dia.
E tenha muito cuidado na escolha da pessoa a quem irá apresentar seu trabalho. Mostre para alguém que seja parecido com você, alguém mais ‘de boa’. Não mostre para um ‘acadêmico’, que provavelmente terá muitas críticas a fazer.
O mais importante que posso dizer é: o que os criadores de dolls cujo trabalho eu mais amo nunca sentiram aquela sensação de terem criado a doll perfeita! Sempre, sempre tem espaço para melhorar e aperfeiçoar. Isto é vital! Conheço algumas pessoas que estão satisfeitas com o que fazem e com isso pararam de desenvolver suas habilidades.
Descubra outros escultores de doll cujo trabalho você admire, que sejam gentis e encorajadores, e mostre a eles o seu trabalho. Você pode ser novato no assunto, mas saiba que já tem algo a oferecer.
Tente manter as proporções corretas. Eu faço questão de trabalhar sempre em cima de um gráfico de referência. Mantenha-se fiel a ele. Porque se você esquecer o gráfico e começar uma doll nova, e a comparar com a que você acabou de fazer, logo ela estará 1 cm maior ou menor, alguns milímetros fora da escala. Quando for copiar esta doll, cada vez ficará mais e mais distorcida.
Dei uma palestra uma vez em um clube de dolls na Inglaterra e pedi que fizessem perguntas. Uma senhora francesa me perguntou algo e eu não sabia a resposta até ser levado a pensar no assunto. Ela me perguntou sobre as partes mais ‘saltadas’ do rosto: “se eu quiser os ossos da face mais ‘saltados’, devo criar a parte mais ‘funda’ primeiro ou vou acrescentando massa para criar o relevo?” Depois de pensar sobre o assunto, percebi que eu vinha cometendo um erro. Eu vinha adicionando massa para fazer os ossos da face, acreditando que a parte mais ‘saltada’ ia fazer com que o resto ficasse mais profundo. E o que eu estava fazendo de fato era criar cabeças cada vez maiores! E de repente pensei ‘Devo me lembrar de criar a parte mais funda primeiro, e talvez a massa já presente seja suficiente para as partes saltadas! A quantidade é minima. É muito fácil fazer com que suas dolls se pareçam com caricaturas e fiquem fora de proporção. Tenha referências confiáveis, móveis perfeitamente dentro da escala, por exemplo. E posicione suas dolls nesses móveis ou ambiente para ter uma percepção melhor da proporção.
Não use você mesmo como referência de medida! Quando Jill e eu exibimos um primeiro grupo de dolls, as pessoas as compraram, mas uma grande cliente chegou até mim e disse: “Eu adoro as suas dolls, é uma pena que elas tenham braços de orangotango’”. Jill e eu ficamos aborrecidos com o comentário, porque as dolls tinham as mesmas proporções que nós! E a senhora que as comprou disse: “mas você já notou como seus braços são compridos?...” E realmente nós vivíamos reclamando de como as mangas das roupas sempre vinham curtas demais!... Eu vi uma dessas dolls muitos anos depois e fiquei horrorizado por termos pensado que aquilo parecia normal!
Se quiser esculpir suas dolls baseando-se nas suas medidas, pode fazer! Algumas pessoas me criticam dizendo que as mãos das minhas são grandes demais. Bem, na verdade elas são grandes. Mas eu também tenho mãos grandes e adoro o efeito dramatico que as mãos grandes causam. Faça sempre os homens com mãos grandes e fortes e pés grandes também. Nada pior do que dolls masculinas com pezinhos pequenos.
DHB: Como você deve saber, temos poucos miniaturistas no Brasil, e ainda menos criadores de dolls em miniatura. Qual seria seu conselho para quem quiser tentar começar a esculpir figuras humanas em miniatura? Quais seriam as suas dicas para iniciantes com poucos recursos à disposição?
Pense em termos de robustez! As mulheres são mais suaves, mais arredondadas. Os homens são mais angulares. Isto é que dá aparência de masculinidade.
DHB: É mesmo difícil de identificar o sexo de algumas dolls. Às vezes parece que quem montou as dolls usou uma estrutura feminina e pôs roupas de homem nela…
Acho que se eu tiver uma história para contar, isto não importa. Alguém me perguntou, logo antes de eu vir para a feira de Chicago, se eu poderia fazer um velho bêbado para seu bar. Ela me deu uma descrição tão clara, que eu imediatamente gostei dele, pelo momento que ele representava! E o momento é que é o mais importante.
DHB: E o que você prefere criar, homens ou mulheres?
Sim! É a história. É o meu lado ‘dramático’, meu lado ‘ator’... Eu gosto de tentar obter essa informação. É algo que meus clientes me contam, algo que eu consigo atingir... Eles frequentemente me contam a história que a doll está tentando transmitir... é o que me leva a elas. Não é a minha história, mas a que ‘elas’ me contam. Se elas contam uma história, sei que terei uma doll de sucesso, porque haverá envolvimento.
DHB: Então é a história que te inspira…
Não, eu tenho um grupo de ferramentas, e aprendi muito rápido que cada ferramenta pode ser bem usada só para uma ou duas coisas. E eu uso aquela ferramenta só para aquelas coisas. E eu às vezes faço experiências com outras, e descubro que elas têm uma ou duas funções. Eu não tento fazer uma única ferramenta perfeita para fazer tudo, nem quero ter 20 ferramentas. Porque, como todo criador de dolls, eu trabalho no meio da bagunça… E se eu só tiver três ferramentas, é mais fácil achar as 3 ferramentas perdidas do que tentar achar essas 3 no meio de outras 20... (risos)
DHB: E num nível mais técnico, você usa muitas ferramentas para esculpir?
Eu agora estou trabalhando na escala 1:24…
DHB: E já que estamos no tópico de medidas, você já se sentiu tentado a esculpir em escalas menores?